segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Nos Braços da Sociedade

Em suas obras, Machado de Assis quebrava valores conservadores, que não resistiram ao tempo e se esvaíram. Passado pouco mais de um século da publicação de "Uns Braços", ficam escancaradas as mudanças comportamentais que sofremos na sociedade brasileira. Toda essa metamorfose social faz com que boa parte da juventude ignore as obras de Machado, não percebendo a proposta provocativa do autor.

No conto “Uns braços” a presença de D. Severina vaga entre maternidade e sensualidade, o que pode transmitir uma imagem deturpada dela. Mas, ela também mostra, mesmo que timidamente, como era a concepção feminina do século XIX: as mulheres tinham que servir e serem submissas ao marido e a sua casa. Isso se mostrava presente de diversas formas naquela sociedade, e a mais marcante era na religião, na qual a imagem da mulher estava quase sempre associada à origem do pecado e do mal.

Muitas pessoas já despertaram para o respeito e para a igualdade, embora algumas continuem a não perceber isto. Na jovem república em que se passa a narrativa, as mulheres não tinham voz nem direito ao voto. Hoje, temos uma realidade diferente: muitas sustentam famílias, são independentes financeiramente e ocupam cargos de poder e respeito. O que acharia Borges ao ver uma mulher na presidência do nosso país?

Entretanto, não podemos deixar de citar a recente vulgarização da mulher, jogando anos de luta e conquista no lixo. O que acentua ainda mais o contraste com o nosso passado: as mulheres andavam vestidas dos pés a cabeça e se preocupando com cada gesto. Tal comportamento não perdurou, excetuando apenas uma bagatela em algumas religiões e comunidades. Principalmente no Brasil, a nudez feminina se tornou algo banal. Mal sabia o jovem Inácio o que sua nação viria a representar para muitos estrangeiros: turismo sexual.

Isso fica claro quando assistimos a adaptação para o curta-metragem. O diretor Adolfo Rosenthal numa tentativa de dar sentido ao encantamento de Inácio por D. Severina para seus telespectadores, que estão acostumados a muito mais do que apenas seios e braços, a coloca mais sensual, adicionando decotes mais ousados e uma cena do menino assistindo-a fechar o espartilho.

Nós provimos de uma sociedade machista o que endossa ainda mais a desvalorização feminina. Apesar de muitas mudanças terem ocorrido, ainda não chegamos a um estado de igualdade entre os sexos e ainda estamos longe disso. O machismo está tão arraigado em nossa sociedade, que ainda hoje, não muito dificilmente, encontramos mulheres machistas, que não exigem os seus direitos.


E para quem quiser refletir um pouco mais sobre mudanças de valores e metamorfoses sociais, e escutar uma ótima música, é claro, Clique aqui.

Josephy Dias Santos
Lucas Siqueira Cheim
Matheus Araújo Caixeta
Rebeca Vital Silva
Victor Gonçalves Netto

7 comentários:

  1. Gustavo Morera Marques27 de nov. de 2011, 20:31:00

    Vocês abordaram bem o tema machismo, mostraram como o machismo era presente no século XIX e relacionaram muito bem a época com dias atuais, muito bom o texto, parabéns.
    Gustavo Moreira .

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  2. Realmente as obras de Machado de Assis quebra valores conservadores,em que até nos dias de hoje
    impera na sociedade conservadora isso inclui religiosos.Bem atribuído grupo.
    ass:Rômulo wallace

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  3. Machado de Assis via muito além do seu tempo, principalmente no que diz respeito a sociedade, como um Júlio Verne brasileiro elucidava o futuro, mas sem lançar mão de uma maquina do tempo, Machado sentia a textura frágil da sociedade brasileira se degradando aos poucos, e sem medo esfregava essa verdade nos rostos dos seus contemporâneos, como fica claro no trecho: "Mal sabia o jovem Inácio o que sua nação viria a representar para muitos estrangeiros: turismo sexual." muito bem ilustrado pelos autores. Os braços de D. Severina é o sussurro das transformações que seguiriam dali, é notável que se no primeiro momento a repressão causa medo, em um segundo momento ela causa revolta e a sua total negação, não podemos culpar algumas mulheres que talvez exagerem ao exibir seus corpos, pois esta é a reação a uma não tão distante sociedade repressora, Machado presenciava em um pesadelo lúcido a degeneração da família, que por muito tempo foi escondida debaixo do tapete do conservadorismo, mas hoje esta escancarada para quem quiser ver, tudo isso mostra ser uma pena que mesmo tão admirado, Machado continue por muitos tão incompreendido.

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  4. Amanda Figur - Informática p/ Internet1 de dez. de 2011, 17:19:00

    Sobre o assunto que o grupo escolheu, dizer se a atualidade é melhor ou pior é questão de ponto de vista, então nem pretendo entrar nesse assunto. O que se pode perceber é a discrepância entre as maneiras de agir: antes as pessoas andavam cobertas dos pés às cabeças, digo pessoas porque os homens também não saiam às ruas de bermudão e blusa regata e sim com roupas mais "sóbrias" ou, como diríamos nos dias de hoje, com roupa social e como exemplo de “roupas que expõe o corpo” as roupas de banho tinham muito mais pano. Com o tempo isso foi se modificando, seja lá por qual motivo, deixo isso para os historiadores de plantão (seria realmente bom ver o ponto de vista de um sobre esse assunto). Vemos hoje essa maneira "livre, leve e solta" por aí e penso que um jeito de encarar a atualidade é como uma experiência para a sociedade: como ela saberia na prática a consequência real dos seus atos sem experimentar? Muitas teorias devem haver, mas as consequências não seriam algo determinado, dependem de tantas influências, seria algo mais probabilístico... entretanto é possível notar com um conhecimento histórico básico que essa existência de grandes diferenças entre os tempos não é a única. O exemplo mais clichê que temos é a diferença entre o mundo na idade média e durante o chamado Iluminismo, um é praticamente o extremo do outro.
    Enfim, estou divagando aqui. Obrigado Lucas e os outros do grupo por desenvolverem um texto que permita "viagens na maionese".

    Obs: Quando eu vi que o sobrenome da Rebeca é "Vital" veio imediatamente na minha mente "Em todos esses anos trabalhando nessa indústria vital, isso é a primeira vez que isso me acontece." (comentário inútil do dia).

    Amanda Figur, 2º ano Informática p/ Internet

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  5. Machado de Assis realmente fazia textos nos quais mostravam uma ideia chocante, mais por baixo daquilo tudo mostrava um pouco da realidade, realidade que já está ultrapassada para o nossos tempos, em que praticamente tudo foi banalizado, assim como o grupo disse.
    Concordo com a ideia do grupo de que o curta mostrou muita sensualidade onde não havia necessidade; mostrar um decote maior, todo um romance misterioso, foi usado esses recursos apenas para chamar atenção do telespectador não para ser fiel ao que foi escrito. O conto deixa que nossa imaginação voe muito mais.

    Enfim, texto muito bem redigido, sem erros de ortografia/digitação/concordância. Parabéns :)

    Arthur Urias Marinho Cavalcante. 2º ano Informática.

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  6. Bem, vocês fizeram uma analise bem profunda sobre a forma que a sociedade vê a mulher. Más também fica claro que a partir de certo ponto, vocês deixam o conto de lado, e começam a falar só da sociedade. O que certamente foge da proposta que é fazer uma crítica ao conto, e não a sociedade. Más fora a isso, o texto está muito bem organizado, coerente, detalhado, o melhor texto do blog nesses aspectos. A questão agora é se a professora Deusa aceitar esse pequeno desvio da proposta que eu mencionei antes. Se sim está perfeito ^^.

    Más de qualquer forma, cuidado pra não fazerem coisas parecidas no futuro. Um bom texto não é o que demonstra grandes conhecimentos e pesquisa, é o que faz bem o que se pede ;).

    Ass: Lucas Lima

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  7. Bem, nesse ponto eu discordo Lucas. Creio que o conto é apenas o ponto de partida para a análise que eu e meu grupo desenvolvemos.

    No 3° e 4° parágrafo, procuramos apronfundar a nossa reflexão da posição da mulher na sociedade, o que não deixa totalmente de lado o conto, pois usamos aspectos citados nele para basear nossos argumentos, como em: "Na jovem república em que se passa a narrativa..." ou em "...as mulheres andavam vestidas dos pés a cabeça...".

    De qualquer forma, obrigado pelas observações. Nós iremos procurar melhorar sempre, pode ter certeza disso.

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